O meu derby

Este fim-de-semana tive cá as minhas sobrinhas. Conjugar os meus horários e interesses com os de duas pré-adolescentes não é a coisa mais fácil. Metendo-se um SportingxBenfica pelo meio, ainda menos. Sendo assim, resolvi oferecer-lhes o jantar no Hard-Rock contando que eles passariam o jogo nos écrans gigantes.

Nunca fiando, ao princípio da tarde, telefonei para lá para me certificar à cerca da transmissão. "Sim, sim, transmitiremos seguramente. Não fazemos marcações às Sextas e Sábados mas se vier cedinho, seguramente arranjaremos mesa para 6 num lugar bom para ver o jogo".

Descontraí e preparei-me com calma para o "número" que transformou, desde que moro onde moro, os jogos SportingxBenfica nos meus preferidos de todo o calendário do Campeonato Nacional: aplaudir a passagem dos adeptos benfiquistas.

Como moro mesmo ao lado do Estádio Alvalade Séc.XXI (é tão difícil imaginar um nome mais inverosímil para um Estádio de futebol!) sinto que, de alguma forma, eu e os outros vizinhos daquela rua, ao mostrarmos os cachecóis e ao aplaudirmos naquela recta final, estamos a dar-lhes força e garra antes de entrarem lá para dentro.

Este episódio foi, mais uma vez, extremamente emocionante. E foi bonito ver o meu filho a vibrar com aqueles cânticos a uma voz. É arrepiante quando eles nos vêm e nos aplaudem lá de baixo e cantam connosco e gritam mais alto.

Segui em grande velocidade para o Hard.Rock. Cheguei às 19h (para jantar!). Tive que esperar. Só me podia sentar quando as 6 pessoas estivessem todas. Aproveitei a espera para voltar a perguntar se transmitiam o jogo. Não me garantiram. Achavam que não. Telefonaram para "alguém" que lhes disse que afinal sim, transmitiam. Mas não nos écrans grandes, isso só nos dias de Super Bowl e assim (!!!). O que me parece fazer todo o sentido, não acham?

Aproveitaram para me avisar que, afinal, as mesas para 6 estão num sítio donde é difícil ver os écrans. Vê-se, mas com dificuldade. Tudo bem por mim. Desde que perceba se foi golo e dê para ver a repetição de pé, tudo fixe.

Finalmente lá nos sentámos todos, por volta das 19h40. Ainda tinha tempo e resolvi, enquanto escolhia qual dos pratos de carne cheiinho de colesterol é que ia pedir, perguntar mais uma vez se iam transmitir o jogo. "Sim sim, mas não neste écrans laterais. Terá que ver apenas num daqueles dois". Amigos, eu estava por tudo. Quase que ficava feliz se transmitissem apenas o relato feito pelo Ribeiro Cristóvão, em mono. Tudo bem. Escolhi o hambúrguer e pedi uma imperial (que ali tem o tamanho dum balde).

Não querendo ser chato, não voltei a aborrecer ninguém até às 20h (hora do jogo). Mas já se jogava em Alvalade e eu ainda estava a ver videoclips dos Aerosmith e dos Guns and Roses. Resolvi voltar a perguntar: "Vão transmitir o jogo, certo?". O senhor disse-me que ia já tratar disso. Já agora, perguntou-me, "A que horas começa o jogo?". Começou há 10 minutos!!!

Esperei, esperei e nada. Recebo uma sms do B. "Juro que tirava o David Luiz no segundo em que fez aquilo!!". Não percebi mas calculei o que se tinha passado. Do jogo nada. Só os Madness aos pulos e aos gritos em todos os écranzinhos. Que apropriado! Chega a menina sorridente com mais bebidas: "o Sporting está a ganhar 1-0. Não sei se o Senhor é sportinguista...?".

"Sou benfiquista. Gostava que a senhora soubesse que no final do jantar vou apresentar queixa a quem de direito. Vim jantar a este restaurante porque me garantiram À TARDE, pelo telefone, que transmitiriam o jogo. Perguntei LÁ EM BAIXO, voltei a perguntar CÁ EM CIMA e confirmaram-me sempre a transmissão do jogo. O jogo não está a ser transmitido. Agradeço no entanto a amabilidade de me ter dito o resultado do jogo".

Enfiei o meu hambúrguer pela goela abaixo e de seguida enfiei, um a um, os hambúrgueres das criancinhas todas pelas respectivas goelinhas abaixo também. A 15 minutos do intervalo, lá pareceu uma imagem no écran gigante (afinal!), da qual eu conseguia ver metade. Felizmente a metade de cima, onde aparece o resultado e os minutos. Pedi a conta e antes de sair ainda tive tempo para ver o Reyes a marcar o penalti.

O gerente veio desfazer-se em desculpas e eu com vontade de lhe responder no dialecto que se fala nos Estádios de Futebol. Mas eu não estava num e ele de certeza que nunca lá pôs os pés também. Eu estava num sacana dum restaurante americano com a mania que faz as coisas todas bem feitinhas. Meti-me no carro e vim a abrir para casa. Ainda a tempo de ver a segunda parte. Aquela miserável segunda parte que me deixou ainda mais em baixo.

Como imaginam. Adorei o meu derby deste ano.

Curiosamente, sabem a única coisa que me serviu de consolo? Voltar a esperar pelos adeptos benfiquistas à saída. Já bem tarde. Voltar a bater-lhes palmas e recebê-las de volta. Obrigado rapazes.