Videoclube

A propósito de entrevistas a treinadores... viram o Carlos Queiroz naquele programa do Daniel Oliveira na SIC, "O regresso dos incríveis"?

Espero que não porque se viram - como eu, desgraçadamente - perderam qualquer réstia de respeito e/ou admiração pelo Carlos Queiroz que teimosa e estupidamente ainda guardavam desde... Riade.

Nem vou falar do ar armado-em-pintas-com-muita-graça-mas-sem-ser-pintas-e-sobretudo-sem-ter-qualquer-graça do Professor enquanto jogava snooker com o Agostinho Oliveira e arrotava postas de pescada, ameaçando terminar o jogo pelo menos em 17 ocasiões diferentes mas falhando cada uma delas até estarem os dois a jogar à preta...

O que me ficou na retina depois do que vi - e também o mais assustador - é que o Professor Queiroz continua apaixonado por aquele brinquedo novo que ele deve ter comprado em Manchester e que, aparentemente, é na sua opinião o Nirvana das metodologias de um treinador de futebol. É o topo. Uma vez atingido, não há mais caminho a subir.

Acontece que esse cume dos cumes não é mais do que dois ou três Macintosh artilhados e cheiinhos de vídeos de futebol até às costuras. Uma espécie de YouTube privado feito de retalhos de jogos em que os nossos futuros adversários participaram. Exemplo: o Drogba a marcar golos pelo Chelsea mas também o Drogba a desmarcar-se com a camisola da Costa do Marfim ou a retirar as cuecas do rabo depois de um carrinho mais severo ainda nos tempos do Marselha. Isto 300 vezes. Cada jogador.

Depois é só fechar o Ricardo Carvalho mais os restantes 50 centrais que levamos à África do Sul numa sala escura e obrigá-los a ver e rever a maravilhosa técnica do Drogba até se lhes secarem os sacos lacrimais. A opinião do Professor é que isto basta. Medo.

Assim à primeira vista, esta maravilha da técnica limita-se a preparar-nos (e provavelmente mal!) para evitarmos os malabarismos dos adversários e não em surpreendê-los com por exemplo, como é que se diz?... ah, ataques organizados. Ou mesmo construindo uma jogada com pés e cabeça, que é coisa que Queiroz parece não conseguir transmitir aos seus jogadores desde 1991*.

Corrijam-me se estou enganado mas isto não é um pouco como assistir furiosamente ao canal Touro Bravo durante um mês e a seguir enfiarmo-nos na arena da Praça de Touros de Madrid, cara a cara com uma besta de 500 quilos em pontas, esperando que tudo corra bem porque vimos horas e horas de imagens em HD do belo espécime que se encontra à nossa frente? Vai dar merda com certeza.

Por outro lado, numa entrevista dada já depois do jogo com Cabo Verde, o Professor está também descansado à sombra dessa bananeira que é o facto de "termos na nossa equipa um jogador que já foi o melhor do mundo e outros que são dos melhores" e portanto... vai tudo correr bem. Muito medo.



*Embora comece a fazer sentido a tese de que a táctica para esse Campeonato do Mundo foi esquecer o que se ouviu no balneário e ir criando outra em campo pelos pés do Rui Costa, João Pinto, Jorge Costa e Figo.