Tratamento VIP no City vs Sporting

Um bom amigo meu e comentador deste blog fala no "Jornal i" da sua experiência em Manchester:

"Tenho na mão três bilhetes para a segunda mão do jogo da Europa League, Manchester City vs. Sporting Clube de Portugal.
Trabalho num canal de televisão em Londres que tem os direitos de transmissão da Europa League para Inglaterra. Há sempre bilhetes para os jogos, mas ninguém vai a todos, obviamente. Existe é uma lei não escrita entre os “continentais” do canal que se o teu clube vem a Inglaterra jogar tu vais ver o jogo. E apito final.
Acontece que quem arranja os bilhetes é um adepto fervoroso do Manchester City.  Será que ele vai boicotar o adversário a começar por mim? Ganho coragem, mas nem preciso de dizer nada. Quantos queres?, pergunta-me ele. Três, digo. Três recebo. Nos bilhetes está escrito: “The Boardroom”.  O que é isto?, pergunto.
 Isso é a zona VIP do estádio, tens direito a uma refeição de cinco pratos antes do jogo, fato e gravata são obrigatórios e não podes levar as cores da tua equipa. Agradeço, sinceramente. De fato? Não posso levar o meu cachecol verde e branco?
 E é assim que estou aqui sentado no meio do estádio Etihad. Com a barriga bem cheia de iguarias e champanhe servidos na sala VIP do clube mais rico do mundo. Sinto-me como se estivesse na Death Star, dentro da nave dos maus da fita. Não será bem uma Guerra das Estrelas o que vai acontecer daqui a uns minutos. As estrelas neste caso jogam todas de azul.
Tento avistar um lugar melhor que o meu, mas melhor só no relvado. Só que uma lesão no joelho, sabem como é, acabou com a minha esperança de ajudar o Sporting em campo. Daqui vejo as cotoveleiras do Luke Skywalker… perdão, do Sá Pinto. Vejo o cachecol do Mancini. Vejo as balizas equidistantes. Vejo o Balotelli a fazer falta sobre o Ínsua na esquina da grande área, vejo o Matias Fernandez a ajeitar a bola. Vejo o Joe Hart a voar para a bola. Vejo a bola no fundo da rede. Golo do Sporting! Os adeptos do Sporting lá ao fundo festejam que nem sportinguistas. O Frederico, sentado ao meu lado esquerdo, aplaude de forma contida. O Bernardo, à minha direita, faz um gesto de punho fechado para o chão, para inglês não ver. Estamos cercados de polidos adeptos do Manchester City. Foi-nos expressamente dito que se festejarmos efusivamente seremos convidados a abandonar o estádio e isso não está nos meus planos, nada me vai impedir de ver o Sporting  ganhar, nem a minha alegria por este golo.
A primeira parte vai continuando e o Sporting continua a jogar contra uma equipa de matraquilhos estáticos e azuis. O Izmailov pega na bola na direita e centra para a área, mesmo para o meio dos centrais azuis… Olha, afinal a bola foi parar aos pés do Van Wolfswinkel, que atira por cima… olha, afinal não, ele chuta é a bola lá para dentro e faz o 0-2. Fico tão surpreso que este nem preciso de me lembrar que não devo festejar. Olho para os meus amigos, que estão tão surpresos como eu.
Apito para o final da primeira parte. Caminho para a nossa mesa na tal Boardroom. À minha espera uma sopa para aquecer. Se isto não é VIP…
A caminho da casa de banho ouço um adepto com ar de quem já comeu muitas sopas ao intervalo dizer: “O problema com estes jogadores latinos é que o futebol lhes corre nas veias.”
De volta ao meu lugar não me cruzei com o Darth Vader, mas sim com o Kenny Dalglish e Stuart Pearce.
Na segunda parte, o Mancini resolve pôr em campo a equipa do Manchester City e tira os matraquilhos. E são 45 minutos de sofrimento. Para todos. Apenas intercalados por uma gargalhada geral à minha volta quando um citizen atrás de mim comenta o cartão amarelo ao defesa central Savic: “Para mim não devia ser mostrado qualquer cartão quando o jogador tem uma clara falta de jeito para jogar futebol. Ele simplesmente não consegue fazer melhor. Coitado, já é castigo suficiente.”
Olho para o relógio do estádio que está parado, os golos do City é que não param, e já só lhes falta um para ganhar a eliminatória. Vejo os adeptos ingleses no seu melhor a apoiar a equipa com cânticos e mais cânticos. Algo que até então tinha sido exclusivo dos adeptos do Sporting.
Rui Patrício faz uma defesa VIP a responder a cabeçada de Joe Hart. Final do jogo.
Dou por mim de pé a abraçar os meus amigos e a festejar. Agora já nos podem pôr a andar à vontade. Os adeptos do City não parecem muito chateados. Vi a derrota do Sporting mais saborosa a que alguma vez tinha assistido. Já só há adeptos do Sporting nas bancadas. Sá Pinto acede ao pedido que lhe fazem da bancada e salta em pleno relvado.
 Caminho para a saída mas volto atrás para desligar o aquecimento da minha cadeira. Se isto não é VIP…"

O que tiro daqui? O Savic é o Emerson lá do sítio...