23 outubro 2012

Dois futebóis

Como qualquer adepto de futebol que se preze, fui ao longo dos anos compilando mentalmente a minha lista de sonhos a concretizar. Dela faziam parte coisas como: assistir ao vivo a um jogo dum Campeonato da Europa e fazer o mesmo num Campeonato do Mundo; Assistir ao vivo a um derby Inglês e fazer o mesmo na Argentina; Acompanhar a equipa do Benfica numa deslocação europeia contra outro colosso europeu, etc. Algumas já concretizei, outras continuam na lista.

O filme que se segue retrata o melhor possível - é impossível explicá-lo em toda a sua dimensão - aquilo que, a partir de um determinado momento, esteve sempre no topo dessa minha lista de sonhos: levar o meu filho ao estádio (da Luz) pela primeira vez

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Esperei largos anos por este dia porque, entre outros motivos, para concretizar este sonho convém ter... um filho.

Depois de concretizada essa condição fundamental, há que esperar que ele tenha idade para ir à bola - no nosso país são os 4 anos de idade. Como isso não me pareceu fundamental, apontei para um jogo calminho e ignorei alegremente este ponto, na ânsia de viver aquele momento o mais depressa possível.

Hoje olho para trás e sei que foi demasiado cedo, ele ainda não sabia o que era o futebol (tive oportunidade de escrever aqui sobre isso na altura) mas, para vos ser absolutamente sincero, quero lá saber!!! Não me arrependo de nada e jamais esquecerei aquele dia mágico.

Não sei o que pensam os outros pais-adeptos mas para mim há claramente um futebol antes da paternidade e um outro depois. Para mal dos nossos leitores o futebol passou a ser para mim completamente diferente e muito mais irrelevante desde então e isso reflecte-se nos temas que aqui abordo e na forma como o faço. Há dias em que, as coisas do futebol me parecem tão sem significado e tão estúpidas que me pergunto "porquê perder tempo a escrever sobre isto"?

Mas se um filho nos traz esta lucidez quanto à hierarquização do futebol no quadro das nossas importâncias pessoais, traz-nos também a maravilha que é podermos desfrutar com ele da magia única do futebol: pedir duas bifanas em vez de uma, guiá-lo pelo meio da multidão com a camisola oficial vestida, durante o aquecimento ouvir "Pai, olha o Luisão", acompanharmos a plenos pulmões o Piçarra no hino enquanto a equipa entra com as camisolas berrantes, aplaudirmos de pé a substituição do Aimar, explicar-lhe da bancada as regras do jogo, as veias aos pulos no pescoço pequenino enquanto grita, de braço esticado no ar para ter a certeza que a bancada oposta o ouve: Benfiiiiica! e depois o brilho nos olhos enquanto aguarda a resposta.

Todas as vezes tão especiais como a primeira. Sem preço.



P.S. - Tomei conhecimento desta reportagem quando a mesma foi publicada pelo grande Pedro Ribeiro no seu blogue. Obrigado por mais esta pérola.

6 comentários:

CAP CRÉUS disse...

O meu puto já tem quase 5 anos.
O dia de entrar na catedral chega a passos rápidos.
Agora tenho que escolher um jogo calminho.
O que garanta uma vitória à grande.
E um jogo que não seja quase à meia noite! :-)

B. disse...

Vi este video há uns tempos mal ele saiu e vi logo que era a tua cara!

Karoglan disse...

Granda posta, Médio.
Abraço

GNR disse...

O 1º jogo do Benfica que o meu filho viu foi um amigável em Moscavide, contra o Olivais e Moscavide. Tinha 2 anos. Era o Benfica de Fernando Santos. Jogou o Micolli.

O 1º na Luz foi contra o Arouca, paraa Taça.

Unknown disse...

o gordo, tu que és um gajo do humor...

http://fotos.sapo.pt/p10elmago/fotos/rui-rangel/?uid=cv84P1P3ibtZhOEFVBvY

abraço

Gorbyn disse...

Excelente comentário! Também já ando a imaginar esse momento e concordo que não se pode antecipar em demasia. Tem que ser algo desejado pelos dois, reduzindo ao máximo a nossa ânsia de os introduzir a esta paixão. Por agora, fico contente por, cada vez que se diz Benfica, já levantar o bracinho. Abraço