24 março 2009

O tema do momento e uma história de amor

Ela aproxima-se dele com os braços no ar. Entre as mãos, um cachecol provocador esticado.
- Benfica!
Ele ri-se. Tão derretido com ela que nem sente a provocação.
- Ganhaste o quê?
- ... uma Taça - responde-lhe ela com pouca convicção.
- Qual Taça? Uma carica... tu ganhaste uma carica!
E ela calou-se como quem dá razão ao outro.


Este diálogo, ouvido em pleno Bairro Alto minutos depois do jogo terminar, diz muito mais do que parece. Eu, como o rapaz da história, também acho que aquela Taça pouco mais vale que uma carica. Seja pelo patrocinador, seja pelo regulamento mais estapafúrdio da história do futebol, nunca lhe dei grande crédito e também não é agora que lhe vou dar. Nem a assinatura do Calatrava no troféu chega para lhe dar o valor devido.

Felizmente, a rapariga da história foi a única pessoa que eu vi nessa noite a festejar a vitória do Benfica e, sejamos francos, ela levou a resposta justa. Um clube da grandeza do Benfica (ou do Sporting, já agora) não festeja com alarido uma vitória numa competição daquelas, quanto mais com uma vitória daquelas.

Mas já estou como o B diz: erros destes vêem-se para aí ao pontapé! Mais uma vez não quero acreditar que o Benfica (assim como teimaria em não acreditar se fosse o Sporting ou o Porto. Já tenho escrito sobre isto...) tenha qualquer coisa a ver com aquele erro do árbitro. Acredito que ele foi "apenas" isso mesmo: um erro do árbitro. O problemas está, como disse o Paulo Bento e muito bem (uma vez mais!), no facto dos árbitros estarem constantemente a cometer erros (seja porque são humanos seja porque são estúpidos) e nunca serem penalizados por isso, enquanto que os jogadores, os técnicos, os presidentes que denunciem esses erros são sistematicamente autuados (finalmente consegui utilizar esta palavra num texto próprio! Estava a tentá-lo desde 1987!).

Outra coisa. O Rui Santos por uma vez tem razão: se as novas tecnologias já estivessem ao serviço do Futebol como estão noutros desportos mais civilizados - vejam o caso do Rugby - aquela falta seria rápida e simplesmente corrigida. Simples, não?

13 comentários:

B. disse...

Demasiado simples para demorar tanto tempo a ser posta em prática...

Ouvi falar nuns Benfiquistas no Marquês, mas espero ter sido piada de mau gosto.

Eu nem festejei, achei piada os penaltys, claro que prefiro ganhar, mas é mesmo uma carica...

(que traz à memória uma analogia engraçada que o teu irmão de certeza se lembrará...para outros temas...)

ABRAÇO!

JAS disse...

Por curiosidade, o que é que faz do rugby um desporto mais "civilizado"?

Rui Lança disse...

Não considero o rugby mais ou menos civilizado. Mas não tenho dúvidas que tem à frente pessoas que não se importam de mudar, quando a mudança visa a melhoria. No Futebol vê-se o atrito à mudança porque...sim.

Há que admirar que no rugby, com maior ou menor agressividade, ela é assumida e não desvirtuada em jogadores que de 30 em 30 segundos simulam faltas ou outras coisas. Adoro Futebol, mas pior que não ver é o que não quer ver.

Bom desporto!

http://coachdocoach.blogspot.com/

mago disse...

Antes de mais nada, bom post.

Quanto aos meios tecnológicos e o paralelismo traçado com o rugby: não é assim tão linear quanto isso... Por exemplo, no rugby esses chamados meios tecnológicos (a repetição) só são utilizados quando o árbitro tem dúvidas relativamente a um ensaio, e nessa altura existe um outro árbitro que está a ver as repetições do lance e informa o árbitro sobre se deve ou não dar o ensaio. No futebol como é que faziamos isto? Também era válido só para golos? Então não tinha sido ajuda nenhuma neste lance da taça (é uma falta, não um golo). Também era válido para ajuizar faltas? Então e quais? Só penalties, ou faltas em cima da área também podiam ser alvo dessa atenção especial?

Aliás, como é que seria possível depender de algo que no futebol é tão subjectivo como as repetições - não se lembram de no ano em que o bar$a foi campeão europeu haver um golo anulado por suposto fora-de-jogo ao Sheva em pleno Camp Nou que na altura dava o empate na eliminatória e que teve direito a uma (uma!) repetição, vista do topo da baliza do outro lado? E isto estamos a falar de umas meias-finais da Champions... E por falar em fora-de-jogo, também usávamos a repetição nesses lances? Todos vimos o torto da linha que numa repetição na Trofa punha o Maxi em fora-de-jogo...

A questão é que isto funciona porque o rugby é um desporto que não funciona como o futebol. Por exemplo, nos quartos-de-final do passado campeonato do mundo a Nova Zelândia foi eliminada pela França em Paris com o ensaio da reviravola francesa a incluir um avant (um passe para a frente - falta no rugby). Viu-se alguém a falar disto, ou a desculpar eliminações, ou a mencionar vergonhas? Não, porque a cultura do desporto rugby não vai por aí... Aliás, alguém está a ver-se a festejar o golo que nos dá o campeonato no último minuto da última jornada em pleno Dragão, e depois ficar à espera que o árbitro receba a indicação se o avançado estava em linha ou fora-de-jogo? O clímax do golo não tem rigorosamente nada a ver com o clímax do ensaio...

Mais depressa se incluía era a regra das assistências médicas do rugby no futebol: se um jogador está magoado então fica no relvado, entra a equipa médica e assiste-o enquanto o jogo segue sempre. Deixa de contar para o jogo (portanto também para o fora-de-jogo), e se por acaso a jogada vai parar ao pé dele, ele que se agache. Simples, não era?

Bananaman disse...

Realmente, o rugby. Excelente analogia. Dá prazer ver um desporto em que homens de barba rija se comportam e respeitam um árbitro com menos 100 Kg do que eles, logo após andarem às cabeçadas uns aos outros.
E em que os árbitros, em caso de dúvida não hesitam em consultar as repetições vídeo.
Praticamente não há polémicas, o pessoal quer é "jogar à bola" e dá gosto ver.

MédioCriativo disse...

B,
Vou averiguar essa questão da "carica".

JAS,
Tanta coisa que nem vou mencioná-las. Mas os comentários que seguiram o teu falam já nalgumas delas. Já agora aproveito para te dizer que utilizar a imagem charmosa do grande David Mourão Ferreira como userpic é das coisas mais bem pensadas que tenho visto na internet.

rl,
Nem mais.

mago,
Concordo com as "diferenças culturais" que mencionas entre os dois desportos em causa mas a meu ver a regra seria precisamente essa: sempre que houvesse dúvidas, o árbitro comunicava com um outro (exterior ao terreno de jogo) que veria a repetição as vezes que fossem necessárias e o elucidaria para tomar a decisão mais correcta. Sempre! Fosse um fora-de-jogo, uma falta, uma agressão sem bola, etc.

MédioCriativo disse...

Bananaman,

Nem mais. É isso mesmo, a malta quer é jogar à bola! Ou ao melão...

mago disse...

MédioCriativo,

ok, eu não sou a favor de algo tão radical quanto aquilo que defendes, acho que o jogo ia ficar parado demasiadas vezes e perdia-se muito da "pica" do desporto em si. Acho que os meios tecnológicos têm coisas a oferecer ao futebol e o futebol tem coisas a ganhar com os meios tecnológicos, mas que tinha de ser uma coisa muito mais regrada e que fosse de fácil aplicação (também no sentido de não ficar o jogo parado à espera de uma decisão).

MédioCriativo disse...

mago,

Percebo-te. E acho que tens razão. Mas caso os responsávei tivessem tomates para tomar estas decisões podiam (e deviam) primeiro fazer experiências em Campeonatos Sub21 ou assim.

Depois logo se via como a regra podia ser aplicada com maior eficácia e sem prejuízo para a, como tu dizes, pica.

Abraço

B. disse...

É simples para mim.

O acesso ao vídeo seria feito só para Penaltys e bolas que possam ou não ter entrado na baliza.

Só isso...

Mantendo o "em caso de dúvida..." beneficia-se o que está estipulado em cada situação.

E claro, agressões não vistas durante o jogo, terá de ser sumaríssimo e afins...

E já resolvia muitos problemas, o resto ia haver erros ainda, foras de jogo mal assinalados ou por assinalar etc, mas começar por algum lado é bem bom.

mago disse...

MédioCriativo,

a falar é que a gente se entende. Plenamente de acordo com a pertinência de fazer experiências em campeonatos do mundo (e da europa, e de áfrica, etc.) de categorias abaixo de sénior. E também plenamente de acordo com a falta de tomates que os responsáveis demonstram ter.

Abraço.

ZéB disse...

Claro que quando falamos do uso das tecnologias no rugby estamos a falar de campeonatos do mundo, seis nações e por aí, porque não acredito que no Roménia-Portugal de outro dia o árbitro pudesse pedir acesso ao vídeo.
O que na Liga Sagres (tinha que ser!) equivale aos jogos dos pequeninos que têm menos câmaras, ou seja, menos meios tecnológicos para arbitrar.

Acho que foi por isso que deixaram de castigar os jogadores através de imagens.

B. disse...

Precisamente.

É muito caro para todos os jogos ter tudo e mais alguma coisa, mas se tivermos em 4 jogos por jornada, são logo metade das equipas a beneficiar disso... Melhor que nada.

Quando aos processos através de imagens, sim, foi por isso... e é pena...

Mas é mais justo retirar essa medida do que não colocar em prática a outra mesmo que não seja possível abranger todas as equipas em todas as jornadas...